29 de agosto de 2012 | 0h 30
Advogado executado no litoral paulista denunciou ameaças. Alerta foi feito em 19 de junho na Assembleia Legislativa; defensor dos direitos humanos, ele morreu quinta-feira
Bruno Paes Manso / William Cardoso - O Estado de S.Paulo
Assassinado com 14 tiros na última quinta-feira em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, o advogado Diego Luiz Berbare Bandeira avisou, em 19 de junho, durante uma reunião na Assembleia Legislativa na capital, que recebia ameaças de pessoas que se sentiam incomodadas com a sua atuação na Comissão de Direitos Humanos da subseção de seu município na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Os alvos do defensor eram policiais civis e militares, diretores de presídio e autoridades em geral.
Em vídeo, Diego Bandeira denunciou corrupção em presídio de Caraguatatuba
O advogado foi assassinado por dois homens quando chegava em casa, no fim da tarde da última quinta. Segundo depoimentos colhidos pela polícia, os bandidos estavam em uma moto, com capacete, e desapareceram após disparar contra a vítima.
No vídeo gravado durante a reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, o advogado apontou corrupção de funcionários e maus-tratos contra os presos do Centro de Detenção Provisória de Caraguatatuba. Também citou nominalmente policiais militares que forjariam flagrantes de tráfico de drogas e disse que era alvo de ameaças porque incomodava muita gente.
Integrante da Comissão de Direitos da Pessoa Humana da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Marco Aurélio (PT) estava presente na reunião de junho e divulgou uma nota nesta semana lamentando o assassinato. "A morte do advogado Diego Bandeira precisa ser apurada e não pode ficar impune. Nós, da Comissão de Direitos Humanos, vamos levar a frente as denúncias que ele fez. Sua morte não pode ser em vão", disse Marco Aurélio. Amanhã, integrantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São Paulo estarão em Caraguatatuba. "Este caso é um absurdo e esperamos que as investigações da polícia consigam nos mostrar o que aconteceu", diz o presidente da comissão, deputado Adriano Diogo (PT).
A presidente da subseção da OAB em Caraguatatuba, Gislayne Macedo de Almeida, disse ontem que espera uma resposta. "Tudo deve ser muito bem apurado. Não tenho hipótese nenhuma sobre o que aconteceu, mas quero acompanhar a investigação, que cabe à polícia."
Entre os amigos, Bandeira era visto como bastante combativo e a morte dele é apontada como uma tragédia. "Não tinha vícios, não ingeria bebida alcoólica, vivia de casa para o trabalho e vice-versa. Era uma pessoa íntegra e com caráter, amigável, sempre disposto a ajudar as pessoas, seja quem fosse. Mas era também uma pessoa batalhadora, aguerrida, que batalhava por Justiça. Ninguém sabe o que pode ter acontecido", disse uma colega de profissão, que preferiu não se identificar.
Bandeira era filho de um ex-delegado, também morto, e irmão de um policial civil. Casado, ele deixou dois filhos menores de idade. Os colegas do advogado realizam hoje, às 19h30, a missa de sétimo dia. Eles pedem que as pessoas compareçam com roupas brancas.
Investigação
Questionada sobre as denúncias feitas pelo advogado, bem como sobre sua morte, a Secretaria de Segurança Pública do Estado afirmou que a Polícia Civil investiga o caso e que há dois suspeitos, ambos presidiários, sendo investigados como mandantes do crime. Segundo a SSP, mais detalhes não podem ser revelados para não atrapalhar as investigações. Após o assassinato, a polícia apreendeu o laptop e os celulares da vítima para buscar pistas que possam levar até os assassinos e à motivação do crime.
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quarta-feira, 29 de agosto de 2012
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